Casal que tentou comprar bebê tinha obsessão por ter filhos e cuidava de boneco

A obsessão por ter um filho foi o motivo que levou os dois casais presos na tentativa de compra de um recém-nascido em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, no dia 6 de março, a cometerem o crime. A Polícia Civil descartou na manhã desta quarta-feira (28) a participação dos dois homens e das duas mulheres, que são do Rio de Janeiro e continuam presos em Contagem, em uma organização criminosa, mas as investigações continuam em outros estados e, até mesmo, outros países, para encontrar a rede de contatos que estaria facilitando as negociações. A Interpol foi acionada.

No dia 12 de março, o delegado Christiano Xavier, da Delegacia Regional de Contagem, que está a frente do caso, informou que investigadores haviam encontrado mensagens em grupos de barriga de aluguel e negociação de bebês no WhatsApp e no Facebook. Os valores variavam entre R$ 15 mil e R$ 35 mil e levantaram a suspeita de que casais formassem uma quadrilha de traficantes. Para o delegado, o fato de eles se calarem durante as interrogações também contribuiu para a suspeita. “Um dos casais se reservou ao direito de ficar calado no dia, então a gente achou meio estranho. Porque se a pessoa chegasse, abrisse o coração, falasse que era apenas uma fixação em ter uma criança, a gente fazia uma análise diferente, mas, após o direito de silêncio deles e análise das provas, a gente achou que eles poderiam integrar parte dessa organização criminosa”, afirmou.

Após a equipe de investigadores da Delegacia de Contagem ir até às casas dos envolvidos, no Rio de Janeiro, no último sábado, foi descartada a possibilidade anteriormente apontada pela Polícia Civil. Segundo o delegado, todos os indícios apontam que casais tinham interesse em adotar crianças a qualquer custo. “Não estão envolvidos em qualquer tipo de organização criminosa. São apenas mães, pais, pessoas que estavam querendo adotar um filho de forma ilegal”, disse o delegado.

O esquema foi descoberto no último dia 6, após uma mulher de 24 anos, que teria negociado entregar o filho recém-nascido para a quadrilha, desistir e denunciar o caso. Os dois casais que vieram buscar a criança recém nascida – Lilia da Conceição, 32, Carlos Alberto Silva, 62, marido dela, Lediane Cruz da Conceição, 33, e Adriano Teixeira Fraga, 39 – foram detidas enquanto aguardavam o nascimento da criança, no saguão da maternidade de Contagem. Nos telefones deles, os policiais encontraram mensagens comprometedoras.

Cuidando de bebê reborn

O delegado disse que os casais estariam obcecados por ter uma criança. Uma das mulheres teria, inclusive, comprado um bebê de borracha e o tratava como ser humano. Um dos indícios que fizeram com que o casal fosse apontado como sendo traficante de bebês foi o fato de que a mulher possui três filhos e, o homem, também três filhos. Inicialmente, para os investigadores da Polícia Civil, casal não possuía perfil compatível para adoção, uma vez que não tinham condições financeiras. Eles, entretanto, não têm filhos em comum. Ela teria sofrido um aborto recentemente em uma gestação que já chegava a 7 meses. “O sonho deles era ter um filho. Verificamos que na casa dela tinha um bebê de borracha que ela pagou R$ 1.800 e ela ficava andando com essa criança para a rua, colocava essa criança para assistir desenho na sala, dava mamadeira para ela, era uma criança de borracha, parecendo muito uma criança de verdade”, contou o delegado.

A outra mulher teria obsessão por ter uma menina e estava disposta a comprar a criança.

Tráfico internacional

O inquérito que investigava a ação dos dois casais deve ser concluído nos próximos quatro dias úteis, segundo o delegado Christiano Xavier. Após ser encaminhado à Justiça, previsão da Polícia é de que advogados entrem com pedido de relaxamento da pena. De acordo com o delegado, fato de casais participarem de grupos de barriga de aluguel apontam que tráfico de crianças acontece. Em um dos grupos, dois participantes possuem telefones da Itália e dos Estados Unidos, o que fez com que polícia acionasse a Interpol.

“Nós verificamos em um desses grupos de barriga de aluguel, pessoas vendendo de forma explícita crianças recém-nascidos, inclusive pessoas dos Estados Unidos e Itália. Nós desmembramos parte da documentação do processo e estamos encaminhando para a Interpol para que acione cada pátria”, afirmou.

Também há indícios de tráfico no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. A Polícia Civil desses estados dará continuidade às investigações.

Os dois casais inicialmente apontados como sendo os líderes da organização criminosa permanecem presos em Contagem. Eles serão desqualificados no crime de formação de quadrilha, mas responderão pelo artigo 238, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que condena a entrega de bebês por meio de pagamentos.

Comentários estão fechados.