Adolescente morta a facadas é enterrada em São Roque; pai é ‘suspeito’ e está foragido

O corpo da estudante morta a facadas em São Roque (SP), na madrugada de quarta-feira (3), foi enterrado na manhã desta quinta-feira (4), no Cemitério Cambará. O pai é suspeito de ter cometido o crime e está foragido. Ele tinha saído da cadeia horas antes, ao ter o direito de recorrer a uma condenação por estupro em liberdade.
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O corpo de Letícia Tanzi, de 13 anos, chegou ao cemitério às 9h10 acompanhado de amigos, familiares, professores e colegas de escola. Muitos jovens se mobilizaram para dar o último adeus à menina.

“Nós a víamos no intervalo e não imaginávamos o problema que ela estava tendo na casa dela. Hoje ninguém foi para a escola, viemos todos prestar a última homenagem”, conta uma jovem que estudava na mesma escola que Letícia.

Antes do enterro, que reuniu cerca de 120 pessoas, o caixão foi aberto e todos fizeram uma oração. “Sentiremos muita saudades de você, Letícia. Que Deus te proteja, porque você merece”, disse uma mulher.

“A justiça do homem é falha, mas nós cremos que a justiça de Deus não vai deixar impune”, completou um homem.

Edwirges Oliveira, de 64 anos, contou ao G1 que mora na mesma estrada da família de Letícia e sempre conviveu com eles. Ela lembrou que a menina frequentava sua casa desde criança.

“É um crime que chocou demais, ela era uma menina tão doce, tão querida e aconteceu isso. É difícil de acreditar”, disse, emocionada.

Outras pessoas que nem conheciam a jovem pessoalmente também estiveram no enterro e no velório. “A cidade toda está inconformada. Todos ficamos assustados com o jeito triste que ela morreu”, disse uma moradora do bairro Canguera.

Condenação por estupro

Horácio foi preso em junho deste ano, após ser condenado a oito anos de prisão por estuprar a cunhada, que tem problemas mentais, em 2010.

De acordo com informações do Tribunal de Justiça de São Paulo, o suspeito respondeu em liberdade durante todo o processo porque sempre cumpriu as medidas cautelares. “O réu não ostentava antecedente criminal, demonstrou ter ocupação lícita e tinha residência fixa, não existindo indício a demonstrar a necessidade de aplicação da medida de prisão cautelar do investigado”, explica o TJ.

O órgão ressalta que o benefício de responder em liberdade é baseado em jurisprudência de tribunais superiores, que entendem que a prisão antes da condenação em segunda instância é usada somente em casos em que há necessidade concreta de tirar o investigado do convívio em sociedade.

Ao final do processo, Horácio foi condenado, mas com possibilidade de recorrer da decisão em liberdade. Ao ser intimado, o suspeito não foi encontrado no endereço informado, perdeu o prazo para recorrer e teve a prisão decretada. Ele foi localizado e preso em 8 de junho.

O advogado de defesa da família recorreu para que ele continuasse respondendo em liberdade, pois Horário ainda morava no endereço informado à Justiça.

Dias depois da prisão, no entanto, a família descobriu que a filha tinha sido abusada pelo pai e registrou um boletim de ocorrência contra ele.

“Quando a polícia o prendeu fiquei até mal, porque tinha passado tanto tempo daquela história. Mas, depois de um mês mais ou menos, eu descobri que ele estava abusando da nossa filha”, afirma Letícia Tanzi.

Segundo o TJ, essa informação, no entanto, não chegou a fazer parte do processo. Sem saber que Horácio tinha outra denúncia de estupro contra ele, o juiz reconheceu o problema da intimação e expediu o alvará de soltura para que ele pudesse recorrer da condenação em liberdade.

O crime

Segundo consta no boletim de ocorrência, horas depois de sair da prisão, Horácio foi para casa. A mãe da menina disse que o marido chegou de madrugada, arrombou uma porta e conseguiu entrar no imóvel, no entanto, não parecia representar uma ameaça naquele momento.

“Ele estava calmo, conversando. Até pediu desculpa para a nossa filha. Eles se abraçaram e até choraram juntos”, disse.

Segundo a mãe, Horácio tinha o objetivo de convencer a filha a retirar a denúncia de estupro. Ele estava calmo, mas a situação mudou quando a menina se negou a voltar atrás. “Ele queria que ela mentisse, que ela falasse que ele não tinha feito nada com ela. Nisso ele foi ficando nervoso.”

Horácio agrediu a mulher com socos e tentou esganá-la. Ela conseguiu se desvencilhar e fugir para a casa de uma vizinha, para pedir socorro.

O documento policial relata que o homem trancou o filho mais novo no quarto e deu várias facadas na filha, que estava na sala. Em seguida, o criminoso fugiu por um matagal.

O garoto conseguiu sair do quarto e foi para a rua, onde encontrou a viatura policial e disse aos PMs que a irmã tinha sido morta pelo pai. A jovem chegou a ser levada para a Santa Casa da cidade, mas não resistiu aos ferimentos.

O corpo da adolescente foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Sorocaba e liberado para a família. Amigos, parentes e professores velaram o corpo no velório municipal sob forte comoção.

“Era jovem e tinha tudo para vencer na vida. Prova disso é esse tanto de amigo aqui e a família abalados com essa tragédia”, disse Maurício César Lucas, primo da vítima.

Jurada de morte

A menina confidenciou à tia semanas antes do crime que tinha sido ameaçada de morte caso denunciasse o estupro sofrido por ela.

“Ela disse que foi jurada de morte pelo próprio pai se contasse para alguém sobre os abusos sexuais que ele praticava”, diz.


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