Criança ficou mais de um mês na UTI e superou sangramento, parada cardiorrespiratória e infecções. Bisavó e avó estão presas e pais manifestaram interesse em ficar com a menina.
A bebê indígena que sobreviveu após ficar enterrada por seis horas em Canarana, a 838 km de Cuiabá, deixou o hospital nessa semana aguarda por decisão judicial em um abrigo naquele município.
A menina ficou mais de um mês internada na Santa Casa de Misericórdia em Cuiabá e teve alta na última segunda-feira (9).
Como foi a recuperação
A criança chegou ao hospital de Canarana na noite do dia 5 de junho e recebeu os primeiros atendimentos em uma maca. Ela respirava com muita dificuldade, por isso, o primeiro passo foi desobstruir as vias aéreas.
O nariz e a boca ainda estavam com muita terra e foi preciso fazer a higienização com água morna. Em seguida, a criança foi levada para uma incubadora.
Aquecida e com suporte de oxigênio, a recém-nascida foi transferida para a UTI neonatal da Santa casa de Cuiabá.
Seis horas enterrada
Segundo a polícia, a criança foi enterrada por volta do meio-dia e a uma denúncia foi feita no início da tarde. A menina só foi resgatada no período da noite. Os policiais não imaginavam que ela estivesse viva. Para a surpresa deles, ouviu-se um pequeno choro embaixo da terra.
A bisavó assumiu que enterrou a criança e foi presa. Três dias depois, a avó também foi detida como suspeita de participação no crime. Ambas alegam que acreditavam que a bebê tinha nascido morta. A mãe – uma adolescente de quinze anos – disse que não sabia que a filha estava viva quando foi enterrada.
“Nós apuramos que a mãe e a avó da adolescente planejaram todo o evento. Elas trouxeram outras parentes da reserva indígena e elas providenciaram o parto da adolescente em casa e depois enterraram a criança viva”, afirmou o delegado Deuel Paixão Santana.
Para o delegado, não há motivação cultural. A família não aceitava a criança porque a filha é solteira.
Mais de um mês na UTI
A recém-nascida apresentou um sangramento gastrointestinal – região mais afetada pela falta de oxigenação durante o tempo em que ela ficou embaixo da terra.
Ela chegou a sofrer uma parada cardiorrespiratória e as funções renais também ficaram comprometidas, além de ter uma infecção generalizada.
A menina ficou 16 dias entubada, mas aos poucos foi reagindo de maneira surpreendente.
Foram 36 dias na UTI Neonatal, onde a menina recebeu atendimento de uma equipe multidisciplinar. Foi um novo desafio a cada dia na batalha pela vida.
Os médicos tentam entender como uma recém-nascida que ficou seis horas embaixo da terra conseguiu sobreviver sem nenhuma sequela aparente.
“Dentro da barriga da mãe, dentro do período fetal, o recém-nascido tem baixas taxas de oxigênio. A placenta que dava oxigênio para ele. Quando o bebê nasce, ele começa a respirar, mas essa transição é feita de forma lenta, gradativa e provavelmente por isso esse recém-nascido teve esse sucesso de conseguir se manter com baixas taxas de oxigênio”, explicou a médica neonatologista, Juliana Del Bigio.
Uma semana antes da alta, o pai da criança, que alegou não ter sido informado da gravidez, registrou a bebê e demonstrou interesse em assumir a guarda da filha.
Em nota, a Funai disse que está acompanhando o caso para garantir que os direitos dos indígenas envolvidos sejam respeitados. A menina aguarda a decisão da Justiça no abrigo da cidade, ganhando peso e cuidados.