Mulher que pediu para não ser identificada afirma que Sandro de Jesus Machado consumia álcool e usava droga eventualmente.
Com o salário de pedreiro, ele mantinha a família — além dele e da esposa, os três filhos. Incluindo a enteada Sara Emanuele Martins, de 9 anos, que ele tratava como filha. Pai extremamente afetuoso e bom marido, conforme descrevem as pessoas que conviviam com ele.
Sandro de Jesus Machado, 26 anos, era dono de temperamento calmo. Alterado, ocasionalmente, pelo consumo de álcool e daquela “poeirinha branca”. Eram deslizes espaçados, que não arranhavam — muito — a convivência conjugal e social. Não fazia mal a ninguém, aparentemente.
Entretanto, foi Machado réu confesso do estupro e assassinato da enteada. O corpo de Sara Emanuele foi encontrado em um fundo de vale no Jardim Abussafe 2, zona leste de Londrina, há uma semana. A menina vestia apenas uma blusinha. O corpo apresentava sinais de estrangulamento e ferimentos nas partes íntimas. O crime chocou a cidade no norte no Paraná.
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“Foi um baque muito grande descobrir que eu estava casada com um monstro. O que ele fez não tem perdão. Quero justiça”, afirma a mãe de Sara Emanuele, em entrevista exclusiva ao HuffPost Brasil.
A identidade será preservada, por solicitação dela e de pessoas mais próximas. A mulher, de 32 anos, dorme e come muito pouco, conforme relata a amiga que a acolheu juntamente com os dois filhos – uma menina de 5 anos e um menino de apenas 6 meses. Ambos nasceram do relacionamento de oito anos com Sandro de Jesus.
“Meu mundo caiu no chão de Londrina. Tudo ficou cinza e triste”, desabafa a mãe de Sara Emanuele, que nunca desconfiou de qualquer abuso que o marido tenha cometido contra a filha.
Em depoimento à Polícia Civil, Sandro de Jesus Machado admitiu o estupro ocorrido no sábado. Ele ofereceu R$ 5 para que Sara Emanuele não contasse à mãe dela.
Diante da recusa da enteada, o pedreiro decidiu esganá-la. “Eu estuprei ela e depois dei dinheiro para ela não falar nada. Só que aí, depois, ela falou que ia falar com a mãe. Aí, eu fiz essa loucura de matar. Fiquei com medo das consequências”, afirmou aos policiais.
Machado responderá pelos crimes de abuso de vulnerável e feminicídio. A pena é de até 30 anos de prisão.
O sonho da Bahia para o Paraná
A mãe da vítima tem evitado contato com a imprensa. Aceitou conversar com a reportagem do HuffPost, em Londrina, apenas por telefone. “Ela se nega a voltar para casa”, resume a amiga, que prefere não ser identificada. “Amigos e parentes têm ajudado, mas a minha amiga precisa de acompanhamento médico”, complementa.
Ela enfrenta insônia e a dor profunda pela perda da filha e do marido, que achou que conhecia. “Enquanto não houver justiça, não conseguirei viver em paz”, diz a mãe de Sara Emanuele.
Ela e Sandro de Jesus Machado são baianos de Tapiramutá, município distante 360 quilômetros de Salvador. Vieram ao sul em busca de uma vida melhor.
Primeira parada, São Paulo, há cerca de quatro anos. Após breve passagem no sudeste, o casal mudou-se para Londrina. Retornaram à cidade natal ao final do trabalho do companheiro, na construção civil.
Regressaram a Londrina em 2017. Com o boom de novos empreendimentos, havia novas oportunidades profissionais para o companheiro. A baiana, que foi trabalhadora rural, previa um futuro bom para os filhos. Gostava da cidade, colonizada por ingleses e que em 2019 comemora 85 anos de fundação.
Com o fim do sonho, a mãe tenta encontrar força pois precisa criar os filhos que perderam a irmã e também o pai.
“Não serei como antes. Espero erguer novamente minha cabeça, me refazer da melhor maneira possível porque tenho duas crianças para cuidar”, conclui.