Menina Ágatha, de 8 anos, morre com tiro nas costas durante operação policial – Todos os detalhes do caso

Uma menina de oito anos morreu, nesta sexta-feira, após ser baleada na comunidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Ágatha Vitória Sales Félix chegou a ser levada para a UPA do Alemão e transferida para hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos.

A criança estava dentro de uma kombi com a mãe, quando foi baleada nas costas. Segundo os moradores, PMs atiraram contra uma moto que passava pelo local, e o tiro atingiu a criança.

“Atirou na kombi e matou a minha neta. Foi isso. Isso é confronto? A minha neta tava armada por acaso pra poder levar um tiro?”, criticou o avô da criança.

Ágatha é a quinta criança morta em função da violência no estado esse ano.

Por volta das 10h, moradores do Alemão faziam um protesto, por ruas da comunidade, contra a morte da criança. Imagens publicadas na página do Voz das Comunidades mostram moradores caminhando pacificamente e pedindo paz na região.

Em nota, a PM informou que, por volta das 22h, equipes policiais da UPP Fazendinha foram atacadas em várias localidades da comunidade de forma simultânea. Os policiais revidaram à agressão e houve confronto. Ainda de acordo com a PM, após a troca de tiros, os policiais receberam a informação de que um morador havia sido baleado.

A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) disse que vai abrir um procedimento apuratório para verificar todas as circunstâncias da ação.

Versão da família e moradores

  • PMs atiraram contra uma moto que passava pelo local, e o tiro atingiu a criança.
  • Testemunhas dizem que, no momento, não havia confronto. “Foi só um único tiro. A moto passou, os policiais desconfiaram da moto, atiraram em cima da moto e acertaram na Kombi onde estava a minha sobrinha”, afirmou Danilo Félix, tio da menina.
  • O motorista da Kombi também afirmou que não havia tiroteio. “Foram dois disparos que ele [policial] deu. Falou que foi tiroteio de todos os lados, é mentira! Mentira!”, disse o motorista no enterro da menina.

Versão da polícia

  • A PM disse que houve confronto. Segundo o porta-voz da PM Mauro Fliess, os policiais disseram que “foram atacados de forma simultânea por marginais daquela localidade”.
  • “Não há nenhum indicativo nesse momento de uma participação efetiva do policial militar no triste episódio que vitimou a pequena Ágatha”, disse o porta-voz.
  • “Não iremos recuar. O governo do estado está no caminho certo, estamos reduzindo o número de homicídios dolosos e lamentamos profundamente que pessoas inocentes como a Ágatha e como outras que já aconteceram no estado do Rio de Janeiro perderam suas vidas. Lamentamos profundamente e prestamos solidariedade às famílias”, disse o porta-voz da PM, Mauro Fliess.

Investigação

  • Parentes da menina, o motorista da Kombi em que ela estava e outras testemunhas já foram ouvidas.
  • Policiais militares envolvidos na ação que matou a menina devem prestar depoimento nesta segunda-feira na Delegacia de Homicídios da capital, na Barra da Tijuca.
  • Investigadores irão recolher as armas dos PMs para um confronto balístico com o projétil encontrado no corpo da menina, para saber se o tiro saiu da arma de um dos policiais.
  • No decorrer dessa semana, a Polícia Civil também irá definir uma data para reprodução simulada.
  • A Kombi onde a menina estava quando foi atingida já passou por perícia.

(Continua após a foto)

Morte e despedida

Ágatha chegou a ser levada para a UPA do Alemão e depois transferida para Hospital Getúlio Vargas, onde foi submetida a uma cirurgia de cinco horas, mas não resistiu aos ferimentos. Ela é a quinta criança morta em função da violência no estado este ano.

No hospital, o avô da menina entrou em desespero após receber a informação da morte da criança.

A família aguardou ao longo de todo o sábado a liberação do corpo da menina do Instituto Médico-Legal. Segundo a Polícia Civil, não havia no plantão nenhum funcionário que soubesse mexer no scanner corporal – um equipamento semelhante ao utilizado em aeroportos, que permite ver através da pele e dos órgãos.

“O uso do scanner foi fundamental para verificar a imagem do fragmento do projetil, que foi retirado para balística”, informou o IML ao final da noite, quando o exame foi realizado e o corpo, liberado.

A criança foi sepultada no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte, neste domingo, sob forte comoção e protestos. Durante o cortejo, amigos e familiares gritaram por Justiça e aplaudiram no momento em que Ágatha foi enterrada.

(Continua após a foto)

‘Não sou um desalmado’, disse Witzel

No final da entrevista coletiva, ao ser perguntado sobre o que diria para a família da menina Ágatha, o governador ficou emocionado.

“Olhando a minha filha, você acha que não choro, pensando na dor de qualquer pai, qualquer mãe que perca [o seu filho]? Eu sou pai, eu tenho meus filhos em casa, eu olho para eles deitados na cama e penso. Amanhã, aquela mãe não vai ter o filho deitado na cama, para poder olhar, para poder acariciar, passar a mão no cabelo. Você acha que que não penso nisso? Não sou um desalmado. Eu sou uma pessoa de sentimento. Eu sou uma pessoa como qualquer um de nós aqui. Agora, não é porque nós temos um fato terrível como esse que vamos parar o estado.”

Ao ser questionado sobre a demora para se pronunciar depois do crime, Witzel disse que o caso se transformou em “palanque político”.

O governador lamentou a morte e pediu velocidade nas investigações.

“A dor de uma família não se consegue expressar. Eu também sou pai e tenho uma filha de 9 anos. Não posso dizer que sei o tamanho da dor que os pais da menina estão sentindo. Jamais gostaria de passar por um momento como esse. Tem sido difícil ver a dor das famílias que tem seus entes queridos mortos pelo crime organizado. Eu presto minha solidariedade aos pais da menina Ágatha. Que Deus abençoe o anjo que nos deixou”, disse Witzel, em entrevista coletiva.

“Liguei para os secretários de polícia determinando o rigor e a celeridade nas investigações. Eu confio no trabalho das polícias e do MP. E independente do meu pedido eu sei que eles vão fazer o trabalho que tem que fazer”, afirmou .