Menino de 2 anos com crescimento anormal intriga médicos no litoral de SP

Uma criança de Santos, no litoral de São Paulo, tem intrigado especialistas por conta de uma situação inusitada. O pequeno Erick Figueiredo, de dois anos e meio, parou de crescer normalmente aos três meses, o que causou espanto nos familiares. Atualmente, Erick possui peso, altura e aparência de um bebê de menos de um ano. Uma geneticista que estuda o caso acredita que a criança sofra de uma rara alteração genética chamada síndrome de Silver-Russell. Um exame, que será realizado nesta segunda-feira (24), poderá resolver definitvamente esse mistério.

Erick é o primeiro filho da estudante Mariana Figueiredo, de 21 anos. Ele nasceu aos sete meses, no dia 21 de março de 2016, no Hospital e Maternidade Dr. Silvério Fontes, em Santos. “A minha gestação foi normal. Quando estava no sétimo mês da minha gravidez, a minha bolsa acabou rompendo e eu fui para o hospital correndo. Na época, consegui segurar cinco dias para ter o Erick. Só depois disso ele nasceu”, conta. (leia também:Bebê de 5 meses de Khloe Kardashian sofre ataques racista)

Com apenas 39 centímetros e pesando 1,450 kgs, Erick precisou ficar em uma das incubadoras do hospital. Ele permaneceu internado durante quase dois meses. Erick se desenvolveu como um bebê normal até os três meses de vida, quando a mãe reparou que o menino vomitava com frequência e tinha muitas dificuldades para ganhar peso.

“Fomos ao gastroenterologista. O diagnóstico foi de refluxo. Ele passou o remédio e cessou os vômitos. Mas, o peso não estava progredindo”, conta Mariana. A mãe também levou o menino a vários pediatras,e fez muitos exames que não apresentaram nenhuma anormalidade. Todos os médicos diziam que, por Erick ser prematuro, poderia se desenvolver de forma mais lenta.

Após ouvir várias opiniões diferentes, sem que nenhuma fosse conclusiva, Mariana resolveu esperar o menino completar seis meses e introduziu a alimentação sólida. Mesmo comendo bem, o garoto não crescia e nem engordava. Com um ano e seis meses. o menino pesava um pouco mais de 3kgs, o que passou a intrigar os familiares e os médicos.

Desesperada com a situação, a mãe voltou a procurar os médicos e acabou encaminhada ao Ambulatório de Genética da Unimes. O menino foi atendido pela médica Mirlene Cernach, especializada em genética e em anomalias congênitas no período perinatal e genética clínica. Ela pediu exames e, depois de uma avaliação clínica, diagnosticou que Erick poderia ter a rara Síndrome de Silver-Russell (SSR).

Em entrevista ao G1 a médica explicou que essa síndrome é caracterizada, principalmente, por grave retardo de crescimento intrauterino, que persiste no pós-natal. A criança apresenta baixo peso, estatura pequena, além de assimetria corporal e a face pequena e triangular. “Ele tem uma suspeita da síndrome porque essas características estão presentes. É uma síndrome rara. Só conheço uma outra criança, que foi diagnosticada e que também atendo no ambulatório”, diz.

Segundo Mirlene, a síndrome geralmente tem várias causas genéticas, que ocorrem no período da gestação. “Todas as nossas características são determinadas pelos genes. Os genes que a gente herdou da mãe e alguns do pai são desligados e vice-versa. É um fenômeno normal. Quando há um gene que deveria ser desligado e não é, ele desenvolve uma doença, uma síndrome. Há uma alteração no gene. Isso pode ocorrer com qualquer um”, explica.

Além do atraso no aspecto físico, crianças com a síndrome também podem apresentar retardos no desenvolvimento motor e cognitivo. Porém, segundo a médica, apenas com o diagnóstico fechado, com testes adicionais e com o acompanhamento ao longo dos meses, é que será possível identificar as particularidades de cada criança em relação ao problema.

A especialista pediu um teste molecular da Síndrome Silver-Russell, que irá confirmar se Eric realmente tem a síndrome. A família do menino fez uma campanha para arrecadar cerca de R$ 2 mil para pagar o exame. Um laboratório de Santos fez um preço menor para a família. O teste deve ser realizado nesta segunda-feira (24), por meio de coleta de sangue do menino, e será enviado para São Paulo para análise.

O resultado do exame deve acabar com a angústia da família, que tenta desvendar a falta de desenvolvimento de Erick. Hoje, com 2 anos e 5 cinco meses, o menino pesa 6,5 kgs e mede apenas 68 cm. “Ele não anda e não fala por causa da estrutura do corpo dele. Não tem como eu obrigar que ele ande. Os atrasos são devido a isso. É tudo mais lento. Eu entrei em um grupo de mães no Brasil. Eu vi os relatos e muitos conseguiram atingir um tamanho perto do normal, andar, falar após o tratamento”, afirma a mãe.

O tratamento para crianças com a síndrome pode incluir a aplicação de hormônios de crescimento, além do processo de estimulação com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Os hormônios entram na lista dos medicamentos de alto custo e podem ser adquiridos, com prescrição médica, pelo SUS.

Os hormônios são administrados diariamente, mas nem sempre o paciente responde ao tratamento. “Às vezes, não tem o efeito esperado. Essa alteração no desligamento desses genes podem ter vários mecanismos. Dependendo disso, pode ter uma resposta diferente aos hormônios”, diz a médica.

Grávida de sete meses do segundo filho, Mariana só quer buscar, o quanto antes, o tratamento de saúde adequado para o filho viver e se desenvolver bem. “Quando vamos ter um filho, a gente quer que ele seja saudável. Eu quero que se descubra alguma coisa para fazer o tratamento, para ele crescer, andar. Meu sonho é o ver andando, fazendo tratamento. Tudo o que for preciso a gente faz por ele”, finaliza a mãe.