Isabela Miranda de Oliveira foi morta após crise de ciúmes do namorado, que a encontrou na cama com outro homem; autor do crime está preso. Testemunhas dizem que ela estava bêbada e foi vítima de abuso.
Morreu na madrugada desta quinta-feira (7) em um hospital de São Paulo a estudante de 19 anos que teve o corpo queimado no último domingo (3) pelo namorado em Franco da Rocha, na Grande São Paulo.
Registros de feminicidios crescem no Brasil
Testemunhas que estavam na chácara onde o crime ocorreu relataram que a agressão se deu após o homem, William Felipe Alves, de 21 anos, ver Isabela Miranda de Oliveira, que tinha 19 anos, na cama com o cunhado dele. Há relatos de que a mulher estava bêbada e tinha sido abusada pelo cunhado do namorado, Leonardo da Silva, quando foi vista na cama com ele.
William Felipe Alves foi preso em flagrante no mesmo dia. Isabela teve 80% do corpo queimado e estava internada desde o último domingo (3). O corpo dela começou a ser velado na noite de quinta-feira no Velório de Caieiras, e o enterro foi nesta manhã.
A jovem fazia faculdade de administração e trabalhava. O casal estava junto havia um ano.
A Secretaria de Segurança Pública diz que o inquérito continua em andamento e que duas testemunhas já foram ouvidas. A secretaria não informou se o caso será ou não tipificado como feminicídio.
Isabela completaria 20 anos no domingo (10). Familiares contam que ela era “tranquila e estudiosa”.
“Uma menina de ouro, estudiosa, ótima filha, estava trabalhando em uma multinacional, estudando inglês, para subir na vida”, descreve a prima Janusa Correira.
Outra prima, Bruna Mantena, não acreditou quando soube da morte. “Uma menina muito bonita, com sorriso muito fácil, é uma menina que contagia onde passa. É difícil de acreditar.”
“Quando falaram que atearam fogo nela, agrediram ela, que abusaram dela. É uma situação que não dá para acreditar. Era uma menina de 19 anos que tinha a vida inteira pela frente, sabe?
Isabela Miranda de Oliveira, morta em São Paulo após ter o corpo queimado pelo namorado — Foto: Reprodução/TV Globo
O dia do crime
A vítima e o namorado saíram para passar o domingo de carnaval numa chácara em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, a convite de uma amiga de infância de Isabela. Depois de aproveitar o dia inteiro, o grupo começou a jogar dominó. Na brincadeira, quem perdesse tinha que tomar uma dose de tequila. Eles acabaram ficando alcoolizados.
A tia de Isabela, Sonia Miranda Gonçalves, conta que a jovem acabou passando mal depois de beber. “Essa amiga [que convidou Isabela para ir à chácara] acabou socorrendo ela pra dar um banho, porque ela não tava muito bem, e colocou ela no andar de cima [da casa da chácara] pra ela descansar”, disse a tia.
Segundo testemunhas, William Felipe foi até o quarto e viu Isabela e o cunhado dele juntos na cama. Quem estava na casa disse que houve briga e discussão.
“Ele tava transtornado, transtornado… Ele pegou os colchões e ‘tacou’ fogo, atirou fogo com ela lá dentro do quarto. Aí foi quando a gente começou a tentar salvar ela”, disse uma testemunha que não quis se identificar.
O cunhado do suspeito aparece no boletim de ocorrência como sendo vítima, mas testemunhas afirmam que Isabela foi abusada por ele. A irmã do suspeito também é investigada por ter agredido Isabela.
A vítima teve o corpo praticamente todo queimado. O suspeito foi preso em flagrante no mesmo dia. Os dois tinham um relacionamento havia cerca de um ano.
“Morreu um pedaço nosso com ela. Vai ser muito difícil a gente juntar os caquinho que tá. Espatifou demais”, afirma a tia de Isabela.
Número de feminicídios cresce
O morte de Isabela não é um caso isolado. Os registros de feminicídios, casos em que as mulheres foram mortas em crimes de ódio motivados pela condição de gênero, cresceram em um ano no Brasil, segundo levantamento feito pelo G1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal. Foram 1.173 registros no ano passado; já em 2017, foram 1.047.
O número de homicídios dolosos de mulheres, porém, reduziu 6,7% em relação a 2017, quando foram registrados 4.558 assassinatos – a queda é menor, porém, que a registrada se forem contabilizados também os homens.
O novo levantamento revela que:
- O Brasil teve 4.254 homicídios dolosos de mulheres em 2018 (uma redução de 6,7% em relação ao ano anterior)
- Oito estados registram um aumento no número de homicídios de mulheres; 16 contabilizam mais vítimas de feminicídio em 2018
- Roraima é o que tem o maior índice de homicídios contra mulheres: 10 a cada 100 mil mulheres
- Acre é o estado com a maior taxa de feminicídios: 3,2 a cada 100 mil