Bebê estava sob a responsabilidade do suposto pai e avó, que foram encaminhados à delegacia para serem ouvidos e depois liberados.
A mãe da pequena Maria Cecília, de apenas dois meses de idade, Micilene Souza, falou sobre a relação conturbada com o suposto pai da menina, o policial federal Dheymersonn Cavalcante. Ela afirmou que o pai matou a filha para não pagar pensão.
A criança morreu por broncoaspiração – insuficiência respiratória e obstrução das vias aéreas – na sexta-feira, em Rio Branco, depois de ingerir duas mamadeiras de leite artificial. O suposto pai e a mãe dele foram conduzidos à Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) e foram liberados em seguida.
Por telefone à produção da Rede Amazônica, o policial Dheymersonn Cavalcante disse que estava sob efeitos de sedativos e que não tinha condições emocionais de se pronunciar sobre o caso neste momento. “Acabei de perder minha filha e ainda estou passando por isso”, declarou.
A Polícia Federal informou que se trata da vida particular de Cavalcante e que as implicações do caso devem ser realizadas pela Polícia Civil.
“Aqui, devemos colaborar no que for possível com as investigações e instaurar um procedimento interno. Mas, dependerá das investigações realizadas pela Polícia Civil”, disse a PF-AC, por meio da assessoria.
Entre lágrimas e muito abalada, a mãe da bebê contou que conheceu Cavalcante quando ele estava em uma missão na cidade de Marechal Thaumaturgo e que eles tiveram um relacionamento de um mês. Micilene contou que quando descobriu que estava grávida e ele se negou a registrar ou dar qualquer assistência.
“Ele começou a pedir para interromper a gestação, que essa criança não era bem vinda, que não iria assumir nunca. Dizia para eu tirar o bebê. Até os seis meses de gestação arquei com tudo sozinha e, nesse período, entrei com processo de pensão de alimentos gravídicos [pensão durante a gravidez], foi quando ele ficou bonzinho e a mãe dele entrou em contato comigo dizendo que iriam acompanhar a gestação”, lembrou.
Tentativa de aborto
A enfermeira relatou que o policial insistiu para vê-la durante a gestação e, em dezembro do ano passado, eles se encontraram em um hotel em Cruzeiro do Sul. Segundo ela, foi lá que Cavalcante teria tentado fazê-la abortar ao dopá-la.
“Quando acordei pela madrugada, senti muita contração com sangramento e pedi que ele me levasse na maternidade. Ele só pedia para eu ter calma. Liguei para o meu cunhado e ele foi me deixar no hospital. O médico fez o toque em mim, e tirou dois comprimidos de dentro da minha vagina”, afirmou Micilene.
Pedido de DNA
A criança nasceu prematura e chegou a ficar na UTI. A mãe disse que a bebê não conseguia mamar e que teve alergia a todos os leites artificiais. Micilene afirmou que sempre mandava informações e vídeos para o suposto pai e avó da criança.
Na primeira audiência, no início de março, sobre a pensão de alimentos gravídicos, Micilene afirmou que o policial não foi e que a advogada dele disse que ele estava disposto a pagar pelo DNA. Ela contou que no primeiro momento não quis ir a Rio Branco com medo do que o homem pudesse fazer com ela e a criança.
“Eu sentia que ele ia matar a mim, ou minha filha. Bloqueei ele e a mãe dele, e ele mandou mensagem para minha irmã pedindo que eu não fizesse isso. Já à noite, eu decidi ir pra fazer o DNA. Quando cheguei em Rio Branco, tudo eu filmava, porque lá no fundo eu sabia que ele ia fazer alguma coisa com a gente”, afirmou.
Susto na banheira
Micilene lembrou também que durante a estadia na pousada, em Rio Branco, o policial federal e a mãe dele sempre apareciam pelo quarto para visitar a criança e ela. Em uma das visitas, o suposto pai dava banho na bebê e uma vez ela percebeu que a menina começou a se engasgar na água e chegou a ficar sufocada.
“Ele estava dando banho na neném e ela [suposta avó] começou a conversar comigo. Em um relapso, quando olhei, minha filha estava engasgando na banheira, toda sufocada. Saltei da cama e peguei ela e perguntei o que ele tinha feito. Ele falou que não sabia. Fiz massagem e ela foi voltando e não deixei mais ele pegar”, contou.
Depois disso, Cavalcante e a mãe pediram para levar a criança para tirar fotos de família e por três dias seguidos a enfermeira acabou permitindo. Segundo ela, nas duas primeiras vezes, quando a filha voltava, ela percebia que a menina estava mole e sonolenta.
“Por isso que eu me sinto culpada, porque foi de novo, porque já eram dois dias tirando foto, e só hoje eu percebo que tinha alguma coisa armada aí. Ela olhou para mim com um olhar tipo pedindo ‘mamãe me salva’ e eu não fiz nada por ela”, falou, entre lágrimas.
Dia da morte
Depois de quase de três horas que o policial e a mãe levaram a criança para tirar fotos de família, no terceiro dia, ele ligou para Micilene para falar que a menina estava no hospital. De acordo com ela, Cavalcante afirmou que a criança estava bem e pediu que ela fosse até o hospital.
Já no hospital, a enfermeira contou que a avó da criança relatou que tinha dado duas mamadeiras para a bebê porque “queria ficar mais tempo com a neta”. Às 23h, Micilene disse que foi informada da morte da filha por broncoaspiração.
“Só quem perdeu fui eu, tudo isso por causa de R$ 477 reais. Não consigo imaginar o que eles fizeram com a neném, se ele asfixiou ela, ou se deu leite em excesso até ela golfar. Eles estão livres agora. Ele tirou a vida da filha só para não dar pensão. Era tudo premeditado. Eu não queria ter ido e voltei para casa sem minha filha”, concluiu a mulher.
Investigação policial
O delegado Martin Hessel, da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) e responsável pelas investigações, contou que recebeu a denúncia no sábado à tarde e logo iniciou as oitivas tanto do policial, como da mãe dele. Ele preferiu não dar detalhes dos depoimentos para não atrapalhar as investigações.
“A gente abriu a investigação e, embora tenha esse contexto todo do histórico da relação entre a mãe da criança e o suposto pai, é muito cedo dizer que houve homicídio intencional. Mas, já ouvimos muitas pessoas e agora estamos aguardando os laudos. Os dois [pai e avó] foram conduzidos, mas não haviam elementos suficientes para que fosse feita uma prisão em flagrante”, disse o delegado.
Ainda devem ser ouvidos os médicos e paramédicos do Samu que atenderam a ocorrência e os médicos que atenderam a criança no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), de acordo com o delegado.
Especialista fala sobre cuidados
A pediatra neonatologista e alergista Alexsandra Bragança alertou sobre os cuidados que devem ser tomados com relação à alimentação de bebês prematuros. Segundo ela, é feito um cálculo com base no peso da criança para determinar a quantidade e o tempo para amamentação.
“A alimentação no bebê prematuro é, de preferência, exclusiva o leite materno. Porque o intestino do bebê ainda é muito imaturo. Quando essas mães não têm leite suficiente, a gente tenta uma fórmula para prematuros. Quando eles vão para casa, e a mãe não tem o leite, é feito um cálculo com o peso do bebê e quantidade que ele pode ingerir, depois disso, essa mãe é orientada”, explicou a pediatra.
No caso de bebês que são alimentados por mamadeira, a orientação é que os recém-nascidos sejam colocados de forma inclinada. A pediatra alerta ainda sobre o cuidado de deixar o bebê na vertical após a ingestão do leite, para evitar refluxo.
“Quando você termina de dar a alimentação, ainda fica de 15 a 20 minutos com o bebê em posição vertical, para depois deitá-lo. Pode acontecer que o aumento da fórmula seja um pouco maior do que a capacidade gástrica dele, e ele pode ter o refluxo, podendo ainda ter uma asfixia, caso o responsável não esteja prestando atenção”, alertou a médica.