“É um milagre”, diz mãe de bebê que nasceu com 22 semanas

Marina foi para casa após 162 dias no Hospital Moinhos de Vento

Um milagre. É assim que a enfermeira Andressa de Borba Rodrigues, 30 anos, define a sua filha Marina, hoje com pouco mais de cinco de meses de vida. O termo escolhido pela mãe faz jus à trajetória da menina, que nasceu com 22 semanas de gestação e teve alta na última sexta-feira no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. 

A história da bebê começou no final do ano passado, quando Andressa e o marido, o farmacêutico Rafael Daboit, descobriram que realizariam o tão esperado sonho de se tornarem pais. Alguns exames depois, receberam a notícia de que Marina não viria sozinha: era uma gestação gemelar. Passado o susto inicial, a enfermeira evoluiu bem na gestação até a 16ª semana, quando recebeu a recomendação de entrar em repouso absoluto em razão da restrição de crescimento de uma das meninas. Durante a realização de uma ecografia de controle, Andressa recebeu uma nova orientação. Dessa vez, precisaria ser internada, pois o colo uterino estava se abrindo. 

— Fiquei nove dias internada e depois entrei em trabalho de parto. Com medicações, conseguimos segurar até as 22 semanas e quatro dias. Foi parto normal, mas bem difícil. Elas eram bem pequenas, foram direto para a UTI neonatal. A Marina era maior. A Betina ficou 36 horas com vida. Foi então, que começou a saga da Marina — relembra a mãe. 

Pesando 483 gramas e medindo 27 centímetros, Marina foi direto para a incubadora, local que reproduz o ambiente do útero materno, garantindo, assim, o desenvolvimento da recém-nascida. Após a perda da “mana”, como Andressa se refere a Betina, cada dia de vida de Marina era uma nova vitória: 

— Todos foram claros de que o caso dela era incompatível com a vida, mas que dariam todo o suporte para ela progredir. Mas foram passando os dias, ela foi ganhando peso. Quando perdi a mana, fiquei triste e achei que a Marina era uma questão de horas. Mas tenho fé em Deus. Ele me mostrou que ela seria um milagre. Foi a coisa mais incrível que vivenciei. 

De acordo com a médica Desirée Volkmer, chefe do serviço de neonatologia do Moinhos, os cuidados com prematuros são desafiadores e requerem muita dedicação, tecnologia e equipe multiprofissional, especialmente porque eles não estão com a formação completa. No caso de Marina, ela estava com a metade do tempo previsto de gestação:

— É um prematuro extremo. São muitos desafios. Tem a formação do cérebro, do trato gastrointestinal, nem mesmo a pele está formada. É um trabalho de muitas mãos. Alta complexidade, extremo amor. É o que resume nosso trabalho.  

Até hoje, o Moinhos registrou outros dois casos de prematuros de 22 semanas, além de Marina e Betina: uma menina, que hoje tem nove anos, e um menino, que já completou três.

O primeiro contato 

Andressa lembra com precisão do primeiro contato que teve com a filha, o que aconteceu somente no sétimo dia depois do nascimento. Enquanto a equipe se preparava para trocar a menina de incubadora, a mãe conseguiu pegar por alguns instantes a filha no colo. 

— Ela era minúscula. Pude senti-la. Foi maravilhoso. Transbordei de amor, renovou minhas forças — conta. 

Assim como o primeiro toque, a primeira mamada no seio também foi inesquecível. A mamãe conta que, com auxílio da equipe, fariam uma aproximação de Marina apenas para que a menina sentisse seu cheiro. Ao encontrar o seio, a pequena instantaneamente começou a mamar. 

As mudanças 

As complicações na gestação e a dedicação total à filha impuseram, além das alterações na rotina, uma mudança física. Andressa e Daboit moram em Capão da Canoa, no Litoral Norte, e precisaram passar os últimos meses na Capital. Das 8h às 19h, Marina tinha toda a atenção da mãe, que conseguiu dar leite materno, inicialmente por sonda, à pequena com exclusividade até os quatro meses. 

Passados 162 dias, Marina se despediu do hospital com direito a corredor de aplausos de toda a equipe da instituição, vídeos e mais vídeos de celular. Pesando 3,360 quilos e medindo 54 centímetros, a bebê deixou o hospital sorrindo, conta Desirée: 

— A proximidade dos pais e da equipe fez com que ela aprendesse a rir sem ver a gente — diz, referindo-se ao uso obrigatório de máscaras por conta do coronavírus. 

Amor à primeira vista 

Desde a alta de Marina, Priscila Carolina Gomes, enfermeira assistencial da UTI neonatal do Moinhos, troca mensagens frequentes com Andressa para saber como está a adaptação da menina. Priscila foi uma das várias profissionais que acompanharam toda a trajetória da bebê desde fevereiro. 

Responsável pelos cuidados com Marina pela manhã, Priscila conta que comemorou muito quando soube da previsão de alta da pequena, mas também sentiu um aperto no coração. 

— Foi muito emocionante. É um momento que você não acredita e pensa: como vai ser amanhã? Com quem eu vou conversar? Quem vai rir para mim? A felicidade é muito grande, mas fica uma saudade da convivência — relata. 

Do lado da família, além do reconhecimento pelo trabalho de todos os profissionais, Andressa fala com carinho da enfermeira: 

— Ela é uma pessoa surreal. Quando perdi a mana, meu primeiro contato foi com ela. Foi um pós-parto difícil. Eu estava sentada, ela se abaixou e veio falar comigo. Senti uma coisa boa, me senti reconfortada com o olhar dela. Foi amor à primeira vista — lembra a mãe. 

Para a felicidade dos pais e avós — e da pug Fiona —, Marina está se adaptando bem à nova realidade.  

— A gente estava acostumado com suporte grande, mas estamos nos dando bem — comemora Andressa.