O depoimento de uma mãe — que preferiu não se identificar — traz à tona essa questão. Ela reconhece que o amor pela filha adotiva, que é a caçula, é maior do que o que sente pela primogênita, que é biológica. “A partir do momento em que vi Maddie, meus sentimentos em relação à minha primeira filha mudaram para sempre”, disse ela. O relato foi publicado pelo site australiano Kidspot.
Depoimento de mãe
“Quando minha filha tinha 3 anos, começamos a tentar outro bebê. Eu estava desesperada por um segundo filho. Amo ser mãe e queria um irmão para Hailey. No entanto, dois abortos, mais tarde, levaram o nosso médico a dizer que isso nunca aconteceria naturalmente. Nós dois decidimos seguir o caminho da adoção.
Veja: Cuidados que toda mãe deve tomar durante a quarentena pós-parto
Foi uma longa estrada, mas dois anos depois, tivemos nossa linda garota, Madeline, em nossos braços. Ela era um sonho transformado em realidade após esses abortos espontâneos. Hailey amava sua irmãzinha e eu estava determinada a ser a melhor mãe para ela. Eu podia me sentir, desde o começo, negligenciando Hailey e concentrando toda a minha atenção em Madeline. Eu tinha falado com outras mães que tinham dois filhos e elas me disseram que é natural focar no mais novo, já que são mais necessitados. Mas para mim, era mais profundo que isso.
Eu pedi ao meu marido para levar Hailey, para que eu pudesse passar mais tempo com Madeline. Comecei a achar Hailey muito irritante e, provavelmente, não a acariciava tanto quanto costumava. Eu não gostava de mim por isso. Eu disse a mim mesma que talvez fosse a maneira de a mãe natureza ter certeza de que eu estava intimamente ligada à minha nova filha.
Veja: Mãe cuida de bebê natimorto por 15 dias: “Não queria deixa-la ir”
Quando contei a uma amiga, que também adotou um filho, ela comentou que favorecer minha filha adotiva era uma coisa boa, que talvez eu tenha alguma empatia extra por Madeline, que eu não tenha por Hailey. Empatia pelo fato de sua mãe biológica não querer criá-la, ou por ela vir de uma cultura diferente daquela em que está sendo criada agora. Fiquei muito possessiva e não gostava que meu marido passasse muito tempo com ela. Eu realmente a via como ‘minha filha’. A ideia foi adotar e fui eu quem seguiu essa trilha apaixonadamente desde o início. Meu marido acha triste o fato de eu não passar tanto tempo com Hailey quanto com Madeline. Talvez as coisas mudem quando as garotas ficarem mais velhas, mas, por enquanto, eu sinto muito amor por Madeline.
Muitas vezes, tenho que me forçar a tratar as meninas de forma mais igualitária. Se estou brincando com Hailey e, de repente, Madeline chora em seu berço, largo o que estou fazendo e corro para o lado dela, sem qualquer consideração por Hailey. Quero dizer, eu nem paro para avisá-la: ‘Mamãe está checando Maddy e volta logo’.
A outra questão para mim é que, quando estávamos passando pelo processo de adoção, eu sempre questionava se seria capaz de amar um filho adotivo tanto quanto meu filho biológico. Em vez disso, aconteceu o contrário. Eu me sinto mais ligada à minha filha adotiva por razões que eu nunca imaginei. Sei que tenho que mudar meus modos ou então Hailey vai crescer pensando que sua irmã me afastou dela”.
Palavra de especialista
Para a psicóloga Ana Paula Marques, do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam), situações como essa são mais comuns do que se imagina. “Apesar desse filho não ter nascido da barriga, é um filho do coração, então, é preciso entender melhor o contexto. Mas sabemos que, normalmente, a mãe costuma ter um apreço maior por um dos filhos, embora elas não admitam isso. Nesse caso, pode ser uma coincidência ela ter um apreço maior pela filha adotiva, mas também pode ser que essa criança, que veio por meio de uma adoção, tenha chegado com uma responsabilidade diferente”, explica.
Segundo a psicóloga, é fundamental entender o que está por trás disso. “Pode ser apenas uma fase, pois, quando chega um bebê novo, é natural que a mãe destine uma maior atenção pra essa criança. No entanto, também podem ter diversas outras motivações, como o fato de sentir-se mais responsável que o cônjuge pela adoção ou apenas um apreço maior”, diz. “A dica, então, é fazer uma reflexão deixando de lado qualquer julgamento, pois onde tem julgamento nao há aprendizado e crescimento”, completa.
Quanto ao filho mais velho, Ana Paula explicou que “cada um entende o mundo de uma forma, mas, se a mãe está incomodada com a situação, certamente, em algum momento, essa criança também vai perceber e pode internalizar isso”. Então, um exercício, segundo a psicóloga, seria alternar momentos a sós com os filhos. Por exemplo, passear somente com o mais velho, enquanto o mais novo fica com o pai. “Cobre-se menos, viva mais esse amor e tenha consciência de que nem todos os dias vamos amar intensamente”, finaliza.
-
Regras para visitar bebê são exagero ou cuidado?
-
‘Não é porque o bebê gosta’, diz pediatra sobre vídeo de Mayra Cardi
-
Parto de quadrigêmeos tem 3 bebês empelicados e fotos impressionam! Veja